30/11/14

Um cão... a ler

Nada mais fácil do que ensinar um cão a ler 
Para isso é preciso aprender
pegar no lápis e escrever
um conto para refletir e ler

Um gato a cantar
Dois pássaros a pipilar
Que coisa vem a ser esta?
Isto não é nenhuma festa!

O cão só sabe fazer ão, ão, a ladrar
Nem num lápis sabe corretamente pegar
Que trapalhice! Cá vai
A cadeira cai…
Estava a pensar…
Deixa estar…
Não haverá
nada mais difícil.

Letícia Pereira, 10 anos, 5ºD, Escola Básica de Santa Catarina da Serra, Leiria, prof Sérgia Pereira

Desafio RS nº 19 – começando em Nada mais fácil e terminando em Nada mais difícil

Anda um beijo a voar

Olha, falo duma original ideia, meu amor: logo, à hora da novela, vou à janela e dou um beijo no ar. É bom que ninguém me veja, querido. Adoro o enigma!
Ignora quem olhar. Finge olhar a lua ou alguma flor. É bom mandar um beijo na doçura morna daquela hora do fim do dia. Quando o dia é lugar de luz e vigília, o fim dele é ainda melhor quando dá lugar ao verdadeiro amor.

Fernanda Ruaz, 66 anos, Lisboa

Desafio nº 78 – escrever sem C P S T

Amores imperfeitos

Conheceram-se  novos. Treze anos.  
Assumiram seus sentimentos.
Entretanto ele conheceu outro alguém, apaixonou-se. Sentimento recalcado.
Cumprido o serviço militar, casaram.  Tudo reflectia  amor excepto o seu subconsciente.
Foram pais duma menina.
Bênção partilhada.
Acabaram separados. Culpa dos dois, ou de nenhum!
Ele casou-se com a outra paixão, já era viúva. Mas... não deu certo.
Entregou-se à bebida, é infeliz.
Elas tornaram-se amigas. Vivem a mágoa do destino que o perdeu.
Foram quase felizes, num sempre muito pequeno!  

Rosélia Palminha, 66 anos, Pinhal Novo

Desafio nº 79quase felizes, num sempre muito pequeno

Pensar no sol

Nada mais fácil para o Pedro viver na sua casa de cor azul-marinho, à frente do mar. Esta tem uma palmeira com cocos vermelho escuro, uma pedra grande e escura como o basalto, no jardim. Todos os dias, entre as catorze e as dezasseis horas, em cima da pedra quente, está sempre um cão às manchas pretas e brancas a descansar. À noite, o Pedro deita-se na sua cama gelada e pensa no sol, nada mais difícil!

Rodrigo Ferreira, 5ºD, 10 anos, Escola Básica de Santa Catarina da Serra, Leiria, prof Sérgia Pereira

Desafio RS nº 19 – começando em Nada mais fácil e terminando em Nada mais difícil

Noites quentes de verão

Como eram enormes aquelas noites quentes de verão. Avós e netos costumavam sentar-se à noite na soleira da porta até que o sono chegasse. Conversavam muito sobre assuntos variados. Muitas histórias passadas num tempo em que quase nada se tinha. Estavam sempre presentes as guerras, as pestes, as filas para comprar pão durante a guerra civil. Tinham sido dias difíceis, mas não lhes havia faltado o essencial: o amor. Num mundo limitado foram quase felizes, num sempre muito pequeno.

Emília Simões, 63 anos, Mem-Martins (Algueirão)
Publicado aqui: http://ailime-sinais.blogspot.pt/
Desafio nº 79quase felizes, num sempre muito pequeno

Vontade de viver

Foram quase felizes, num sempre muito pequeno apartamento. Fora o seu primeiro lar. De pequeno não tinha nada, os afetos que lá viviam tinham asas gigantes que transbordavam. Também era como um navio antigo, que procurara novos rumos, em que a aventura, a coragem e a determinação faziam daquele pequeno apartamento um cadinho de felicidade que não se quedava pelo que apenas se pode colher, mas antes do que se ganha quanto semeador de vontade de viver.

Constantino Mendes Alves, 56 anos, Leiria

Desafio nº 79quase felizes, num sempre muito pequeno

País real e cruel

Viviam num pequeno país. Real e cruel: impostos, desemprego, vergonha, desespero. Serviço público dizia-se. E os princípios? Compromisso com os cidadãos, integridade, respeito, transparência… Bem, esses estavam lá, muito bem escritos, sob a forma legal e impressos em letra bonita e papel de qualidade. Mas não passam disso. Um rol de meras intenções, para alguém cumprir, que não pelos políticos, entenda-se. Lembram-se nos discursos, para esquecer rapidamente depois de eleitos. Foram quase felizes, num sempre muito pequeno.

Alda Gonçalves, 47, Porto
Desafio nº 79quase felizes, num sempre muito pequeno

TPC ou ajudar a mãe?

Nada mais fácil do que ser salvo pelo toque de saída das aulas, ter a professora esquecendo-se de marcar os TPC.
Ótimo! Podemos chegar a casa e relaxar e começar a jogar ou ver televisão.
– Boa!
Entretanto comecei a ouvir a minha mãe:
– Tens trabalhos de casa?
– Não.
– Boa, já tenho ajuda para fazer o jantar e pôr a mesa.
E eu a pensar… que coisa! Livrei-me dos TPC, mas posso esquecer o divertimento, nada mais difícil.

Vasco Fernandes, 5ºD, 10 anos, Escola Básica de Santa Catarina da Serra, Leiria, prof Sérgia Pereira
Desafio RS nº 19 – começando em Nada mais fácil e terminando em Nada mais difícil


Quimera

Jarbas, o mordomo lhes oferecia suco geladinho. À beira da piscina desfrutavam da tranquilidade, após semana de problemas e intensas atividades.
Final de ano era sempre época de muitos contratos, tratativas para o seguinte.
– Lhes trago um prato de bolinhos de bacalhau, com tira gosto, disse Érica, a cozinheira.
Enquanto degustavam felizes, uma girada de corpo e o sonho acabou.
Foram quase felizes, num sempre muito pequeno.
Ainda bem sabiam que a felicidade não consistia apenas naquilo.

Chica, 66 anos Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil 
Desafio nº 79 – quase felizes, num sempre muito pequeno
Publicado aqui:

A abelha

O ziguezaguear da abelha sempre a xingar fez ruborizar o doutor. Não havia mais nada do que fugir e gritar. Com a unha comeu o ovo de jacaré com queijo e caramelo e ficou mais animado. Aquele insecto dava trabalho. Estava agora em cima de um nenúfar murmurando qualquer coisa impercetível. Procurou no livro dos insectos o sistema, algum botão que o poderia imobilizar. Lá estava. Foi num ápice, logo o estava a enterrar. Colocou-lhe uma vela.

Constantino Mendes Alves, 56 anos, Leiria
Desafio nº 58 – tabela de 2 palavras obrigatórias para o alfabeto, uma à escolha


Armado em doutor

Eis a história de um camelo armado em Doutor; salvou um jacaré de se asfixiar com um caramelo. “Caiu-lhe um pedaço de xisto na cachimónia, coitado!” pronunciavam os seus pais sustendo o riso! Caminhava em ziguezaguefugia dos nenúfares e praticava vela. Deixava as fêmeas a ruborizar, imobilizadas, a tremer, umas a murmurar, outras a gritar. Ousara desfolhar, com a unha, um livro, que encontrara no entulho. Aí um botão activou-se. Não houve hipótesequis ser médico.

Liliana Macedo, 16 anos, Ovar
Desafio nº 58 – tabela de 2 palavras obrigatórias para o alfabeto, uma à escolha


A bem da gente

Uma estrada estava a irritar as gentes. Cruzava a aldeia pela metade. Visivelmente irritadas vieram à câmara gritar: “Que se passa?” “Que presidente permite este ultraje?”. Aldeia pela metade, devia separar-se a gente em duas partes? Uma aldeia é uma unidade indivisível! “É para bem da terra!”, sustentava a presidente. Maria já tinha mais de 80, sabia da vida: “Gente que manda é assim, dizem que fazem a bem da gente mas, se lhe tirarem a gamela…

Constantino Mendes Alves, 56 anos, Leiria

Desafio nº 76 – escrever sem a letra O

Deixa-me dormir...

Ah! Quem me dera dormir! Dói-me o corpo todo. Deem-me uma cama e deito-me! Cansaço total. Hoje, não se destina dar-te uma mão! Deitamo-nos cedo e descansamos. Amanhã, dito-te o exercício e com calma desembaraçar-te-ás. Segunda-feira, a professora dir-te-á se te desenrascaste bem ou não.
– Desistes de mim assim?
– Desistir, Maria? Claro que não.
– Como não!
– Decidi, descansar do cansaço, Maria, apenas isso! Descobri que o descanso me dá energia.
– Descansa, então.
– Obrigada, deixa-me dormir e descansar.

Fátima Fradique, 40 anos, Fundão
Desafio Rádio Sim nº 4 – todos os verbos com uma destas letras O, L ou D (só uma!)


Aqui e agora

Aquele homem não vê
Aquele azul, aquela luz que brilha
Ainda que em breve um novo dia venha
Em ele, nada remexe
nele não há fé na humanidade
Homem que dorme, 
não vê nem quer ver 
Homem, larga o medo!
Ruiu, logo me ergo!
Ruge à dor e voa
O que há é o aqui e o agora
Abraça a roda da vida e vive
deixar ao amanhã o dia de hoje
é dia que já foi!

Sara Pereira, 20 anos, Braga

Desafio nº 78 – escrever sem C P S T

Pedro e Inês

Pedro viu Inês, no café, uma perna por cima da outra, em cruz. Olhou, mirou e não mais deixou de pensar nela. Amor à vista! Paixão certa.
Chegou junto dela e fitou seus olhos grandes e azuis. Sorriu. Ela sorriu também e com a mão mostrou o lugar ao seu lado. O rapaz ficou feliz e pediu um licor para cada um. Mais tarde, chegou um homem junto deles, beijou Inês nos lábios. Pedro corou e saiu.

Fátima Fradique, 40 anos, Fundão

Desafio nº 44 – palavras com apenas 1 ou 2 sílabas

Querido amigo

Querido amigo, murmuro eu
de mim a ele!
Faz quando que não o vejo?
Não me lembro! Minha memória, não me deixa, já me falha!
Não o verei eu? 
Irá a vida boa? 
Amigo a minha flui, obrigado!
Amigo, aqui e agora é novidade
É modernidade
Não há meio
Ninguém falha de admirar-me!
Querido amigo, amaria revê-lo de novo
Meu amigo imaginário,
Viverá ele na minha alma,
raiz de origem?
De amigo a um amigo
Um beijo!

Sara Pereira, 20 anos, Braga

Desafio nº 78 – escrever sem C P S T

Desafio nº 79

Como andámos com a cabeça às voltas no último desafio, hoje será mais simples...

Contem-me uma história que acabe assim (pode não ser a última frase):
Foram quase felizes, num sempre muito pequeno.


Deixo-vos a minha:
Que ideia genial. O ninho no alto da chaminé da padaria proporcionar-lhes-ia quentinho de madrugada, ideal para chocar ovos e aconchegar sonhos. Eram um casal de cegonhas friorento, esqueci-me de dizer…
A vida parecia encaminhada, mas afinal não. A chaminé desfazia-se com a chuva e o vento, ameaçando ruir. O casal partiu então para a torre da igreja. Mas aquele sino, ui!, aquele sino… Foram quase felizes, num sempre muito pequeno. Pudera! Com aquele sino, ninguém aguentava!
Margarida Fonseca Santos, 54 anos, Lisboa
Desafio nº 79 – quase felizes, num sempre
EXEMPLOS
OUVIR

28/11/14

Programa Rádio Sim 396 – 28 Novembro 2014

OUVIR o programa! 

No site da Rádio Sim


O trânsito parecia decidir por mim: não iria chegar a tempo. Ainda pensei: “odeio os semáforos!”, seria verdade? Não só não pretendia encontrar-te, como teria detestado despedir-me de ti. Fora uma relação breve, estranha. Não chegara a ser nada. Quando o verde apareceu, acelerei. O coração também. Uma vertigem levou-me para a tua rua. Vi-te, parado no semáforo que se pôs verde para te permitir saíres da minha vida. “Odeio os semáforos”, repeti, desta vez a sério.

Margarida Fonseca Santos
Desafio nº 15 – com frase retirada de um livro

Discussões

Vamos hoje ao cinema Luís? – perguntou Inês ao namorado.
– Não, hoje não me apetece, e o filme também não me interessa nada, é um filme muito choradinho. E sabes muito bem que não é o meu género!
– Pensei que gostavas muito de mim, mas afinal não gostas. Pois não és capaz de fazer um sacrifício por mim!
– Gosto, sim – disse o Luís –, gosto até muito!
 Se gostasses ias comigo! Vou então sozinha!!
Partiram em direcções opostas.

São Sebastião, 68 anos, Glória, Estremoz
Desafio nº 11 – diálogo com frase final imposta: Partiram então em direções opostas.


Medos

Meto-me no carro e arranco rumo à escola. Piso o acelerador. Tenho pressa de chegar.
Entro na sala, pouso a mala, e lá estão bem ao fundo aqueles olhos castanhos
que fazem acelerar as batidas do meu coração.
Não sei como isto começou mas acredito que também eu lhe não sou indiferente.
Faço tudo para nunca ficarmos sozinhos. Tenho tanto medo!
Se alguém sabe disto!
Que espera uma mulher de 41 anos de um rapazinho de 14?

Milena Falcato, 810 anos, Estremoz, Academia Sénior, prof Zuzu Baleiro
Desafio nº 14história onde entram duas personagens de idades 14 e 41


Domingo

Helena morava em Almada. Naquela manhã de Domingo, foi andar na rua que havia em redor do jardim da moradia onde morava.
No meio do jardim havia um grande lago. Nele havia um nenúfar em flor e uma rã. Helena deu-lhe uma migalha de bolo, que levava na algibeira.
Quando olhou o relógio viu que devia ir embora. A mãe ia a uma reunião no lar onde a avó Joaquina vivia logo que o avô Jaime morrera.

São Sebastião, 68 anos, Glória Estremoz

Desafio nº 78 – escrever sem C P S T

Sou um bule rachado, sou...

Sou um bule com flores cor-de-rosa, tenho um bico longo, fui uma peça elegante, pertença da minha avó. Ninguém me queria por ser velho, o bico estava partido e as chávenas também já não existiam. Não ligava com coisa alguma da casa e fui arrumado a um canto. Isto faz-me lembrar os idosos sozinhos, que também não têm lugar e são arrumados a um canto  sem qualquer utilidade. Ninguém aproveita a sua sabedoria valiosa e muito útil.

Eglantina, 72 anos, Estremoz

Desafio nº 4 – começando a frase “Sou um bule rachado, sou”

Natal

O Natal aproxima-se; todas as pessoas andam muito ansiosas para que chegue esse dia. Especialmente as crianças. O Miguel gostava muito que lhe oferecessem um livro sobre os dinossauros. Então resolveu portar-se muito bem para assim ter possibilidade de receber o presente que muito ambicionava.
Já o seu irmão Ricardo, o que muito gostava de receber era um carro telecomandado.
Os dias iam passando e eles andavam muito ansiosos, desejando que o dia de Natal chegasse depressa. 

São Sebastião, 68 anos, Glória Estremoz

Desafio nº 12 – uma palavra que aparece meia-dúzia de vezes, pelo menos

Ele que se cuide

Pequeno almoço tomado à pressa, menos de meia hora  por caminhos sabidos de cor e eis-me à porta da escola pronta para iniciar mais um ano lectivo.
Nervosa, mas numa esperança louca num bom relacionamento com a nova turma.
Mas, e se o António do sétimo B tivesse voltado?  Ele que me fez a vida negra o ano passado!?
Tenho 41 anos e não vou ter medo dum catraio mal educado de 14!
Ele que se cuide!

Milena Falcato, 81 anos, Estremoz, Academia Sénior, prof Zuzu Baleiro

Desafio nº 14história onde entram duas personagens de idades 14 e 41

Miúdos

Os miúdos foram brincar para o jardim. O pai não os proibira de andar no baloiço, mas os miúdos acharam o baloiço maçador.
Foram jogar à bola com outros miúdos da sua rua. Quando acabaram o jogo da bola jogaram à apanhada; o António não gostava da apanhada, e foi jogar às cartas para casa do amigo Luís.
Quando acabaram o jogo, voltaram a jogar à bola. 
Quando o pai os chamou para almoçar, eles foram logo.

São Sebastião, 68 anos, Glória Estremoz
Desafio nº 9 – sem usar uma letra (U, R, S ou E) – história conhecida


O bule rachado

Sou um bule rachado, sou o ai jesus da minha dona. Sou escuro de loiça das Caldas, uma peça de Bordalo Pinheiro, sou antigo e estou rachado.
Mas tenho muito valor; a tampa está toda nicada, mas mesmo assim sou estimado. Tenho lugar de destaque na estante de antiguidades da minha dona que exibe muito vaidosa às amigas, pensando que é a única a ter uma peça tão bela na sua colecção de loiça antiga.
Estima-me bastante.

Eglantina, 72 anos, Estremoz

Desafio nº 4 – começando a frase “Sou um bule rachado, sou”

27/11/14

Programa Rádio Sim 395 – 27 Novembro 2014

OUVIR o programa! 


No site da Rádio Sim

Saudades
Palavras para quê?
A cada dia que passa, aumenta a saudade!
Dizem para seguir em frente.
Lembrar-me-ei da cumplicidade.
Palavras mudas, daquelas que marcam para a vida.
As tuas lágrimas de luta ensinaram-me a ser autêntica e perseverante.
As laçadas que deste espelham-se na linha da vida.
Amavas indiscriminadamente e sem pedir nada.
Partiste dignamente e deixaste a paz.
Sei que serás a minha luz… para sempre.
Uma linda estrelinha faz-me acreditar que estás ai.
Ilumina-me… Mãe.

Celeste Silva, 43 anos, Coimbra
Desafio nº 76 – escrever sem a letra O

Um número de sorte

77 palavras numa história é coisa especial, coisa do 7, que é o número da sorte, E que sorte eu tive de encontrar este blogue que nos põe desafios tão loucos como criativos e divertidos. Parabéns à Margarida Fonseca Santos (que faz anos por estes dias) que com a sua dedicação e talento tem desenvolvido este criativo encontro de pessoas e textos, que particularmente me tem levantado do chão. O meu obrigado, setenta e sete vezes, claro!

Constantino Mendes Alves, 56 anos, Leiria

Desafio nº 77 – texto sobre o blogue

Ornando a vida

Gema mega agem
latas  talas  atlas
abril  libra  balir

Agora sim, tudo estava em seu lugar, acomodado, como pede um coração de Libra. Perfeito, ajustado. Amores de abril encerrados, balir de nada adiantaria.
As latas ociosas no canto viraram belos e graciosos vasos com flores miúdas, coloridas, dispostos na varanda, um mega efeito na harmonização do ambiente. Talas de madeira foram envernizadas servindo de aparador ao velho atlas da sala de estudos, as gemas turquesa ornariam o quarto. Afinal não é assim que agem os librianos?

Roseane Ferreira, Estado do Amapá, Macapá, Extremo Norte do Brasil.

Desafio RS nº 14 – três trios de palavras em anagrama

Reviver

Revivo.
Uma alegria efémera,
uma memória feliz,
um dia de alegria inebriante:
o brinquedo querido há um ano,  agora ali. Meu.
Uma mágoa: roxa, negra e dorida,
uma borbulha horrível, no nariz deformado;
a gordura invadindo-me a alma,
a voz aguda da menina da vivenda do lado
– a minha barbie é linda, elegante. A menina é feia e balofa.
Uma lágrima foge,
a memória dói.
Fujo.
Não quero relembrar, nem reviver.
Finjo que fui feliz.

Maria José Castro, 54 anos, Azeitão

Desafio nº 78 – escrever sem C P S T

Reflexão

Quando tudo está bem, a inveja procura defeito.”
QU AN DO TU DO ES TA BE MA IN VE JÁ PR OC UR AD EF EI TO.

Quando tudo está bem, a inveja procura defeito.
QUal será a razão? ANdei pensando, DOravante, TUa voz ouvirei. DObrarei a atenção. EStabelecerei limites. TAl cuidado terei. nçãos pedirei. MAior que tudo é Deus. INcidirá o certo, VEncerão os justos. JAmais os maus de coração. PRecipícios surgirão, porém me OCuparei do bem, URge a harmonia, ADemais sentimento ruim volta em dobro a quem desejou. EFêmero sempre será o mal. EIvarei de amor cada dia. TOmbará inveja e invejoso. 

Roseane Ferreira, Estado do Amapá, Macapá, Extremo Norte do Brasil.
Desafio nº 38 – partindo de uma frase, utilizar os pares de letras desta para o texto


O cisne

O SORRISO de Tatiana iluminava a sala.
Nem as luzes da festa conseguiam apagar o seu brilho.
A sua entrada foi triunfal, atraiu para si todas as atenções.
Parecia saída de um filme, com os seus longos cabelos loiros caindo-lhe sobre o seu vestido vermelho, como o FOGO, olhos claros e provocadores e o andar subtil e leve como uma PENA, digno de uma princesa.
Nunca ninguém imaginou que o patinho feio se transformasse num lindo cisne.

Ana Santos, 25 anos, Seixal

Desafio nº 1 – palavras impostas: pena, sorriso, fogo

Arrebatador

Encontro – troca – cabelo – longe – germinado – docilidade – despiu-se.

Quando menos se espera, a vida, surpreendentemente, nos prega uma peça, e não há imunidade que dure para sempre.
Ficara ensandecida com o tal encontro. Um tropeção, a troca de olhares, e o moço de cabelos grisalhos não mais lhe saiu do pensar. Em sua viagem, foi muito longe, tomada de um desejo arrebatador. A paixão, sem cerimônia, havia germinado. Entre o fulgor e a docilidade, despiu-se de qualquer receio e foi ao encontro daquele louco amor... 

Roseane Ferreira, Estado do Amapá, Macapá, Extremo Norte do Brasil.

Desafio nº 25 – palavras com sílabas encadeadas

26/11/14

Programa Rádio Sim 394 – 26 Novembro 2014

OUVIR o programa! 
No site da Rádio Sim

A influência da afetividade no trabalho
Alice quer acabar, esta tarde, a sua tese de licenciatura: “A influência da afetividade na primeira infância”, mas está sem ideias.
Lê as páginas já escritas. Falta alma, um final realmente interessante.
Anda há semanas a adiar, inutilmente.
De repente, a filha aparece-lhe na sala a gatinhar:
– Bláblá… nhenhé… mamama…
Derrete-se… Linda a sua bebé!
Num ápice, esquece a tese. Abraça-a, beija-a.
Juntas, brincam, gatinham, pintam a manta.
À tardinha, de alma cheia, Alice termina a tese.

Palmira Martins, 58 anos, Vila Nova de Gaia
Desafio nº 76 – escrever sem a letra O

Amar o mundo e a vida

Duelo à alma, hoje, fiz:
Lograr que viver não é árduo! 
Migalha que de mim emano e dou.
Quero divulgar a humildade da vida
A quem ainda não viu
Mendigo! Dizem. Não, não fui!
De algibeira fui, de alma não!
Rogo hoje que me ajudem a 
Reavivar aquele que ainda dorme.
A união faz a força!
Quero dar algo maior!
Ao final do dia, no fundo, o que eu quero
É amar o mundo e a vida!

Sara Pereira, 20 anos, Braga

Desafio nº 78 – escrever sem C P S T

Sou como a água

É daqueles silêncios que nascem de dentro, por vezes habitam a memória, outras é o próprio corpo que fala, numa dor, ou numa palavra que me fica presa nos meus sonhos. E são muitos, desde que me conheço nunca parei numa só ideia, num só cenário, numa só floresta. Eu acho que sou como a água, sou o próprio líquido dos sonhos. A corrente. Então ele regressa:
Cuidado, meu filho, só mora no mar quem é mar.

Cuidado, meu filho, só mora no mar quem é mar.” – “Terra Sonâmbula” de Mia Couto
Constantino Mendes Alves, 56 anos, Leiria
Desafio nº 15 – com frase retirada de um livro


25/11/14

Programa Rádio Sim 393 – 25 Novembro 2014

OUVIR o programa! 


No site da Rádio Sim

A hora derradeira
Aquela não era uma hora fácil. Aceitar que não fizera a melhor escolha, lhe pesava os ombros. Entretanto, fardo maior seria ter que engolir as mágoas, ruminar a raiva, e rabiscar a vida, quando se pode certamente bem mais. Prosseguiu faxinando a memória, desocupando gavetas e pastas como gostaria de esvaziar mente e coração. Guardaria em lugar inacessível as sobras de si mesmo, resíduos petrificados, qual folhas secas, papel amassado, dos quais não desejava jamais se desfazer.

Roseane Ferreira, Macapá, Estado de Amapá, Brasil
Desafio nº 68 – imagem de uma folha amarrotada

Tipo ao tipo

– Tipo outra coisa melhor.
– Não sei
– Tipo não 'tás a ver tipo.
– Talvez.
– Tipo achou a coisa engraçada.
– Ah!
– Pois! Tipo agora é que é!
– Então?
– Tipo eu não deixei tipo.
– Como?
– Tipo não sei se te diga.
– Hum!
– Tipo eu disse, tens cá uma “biblioteca”, tipo!
– ‘Tou a ver.
– Tipo, eu… ia dizer, tipo desorientei-me e não é que me pus-me toda doida aos beijos, tipo.
– Ao tipo?
– Tipo sim, ‘tás a ver tipo ao tipo. 

Constantino Mendes Alves, 56 anos, Leiria
Desafio nº 48 – diálogo em que uma personagem tem um tique de linguagem

Deixar o medo de lado

Quero amá-lo, não há dúvida.
Amizade que virou amor.
Um amor jovem, rebelde e nada maduro.
Amor que me faz andar na lua e querer afagar aquela grande nuvem que vejo da minha janela.
Vejo brilho no que não brilha.
A minha alma ganhou uma nova vida, uma nova harmonia, um novo rumo.
A ele, nada lhe falei. Não faz ideia do meu devaneio.
Reagirá bem?!
Um dia, deixo o medo de lado e vou lá dizer-lhe.

Ana Santos, 25 anos, Seixal 

Desafio nº 78 – escrever sem C P S T

Madrugada e Alvorada

Uma luz na madrugada
E na alva bela alvorada
Veio aliviar minha mágoa.
Do orvalho bebo água
E quando a flor é regada
Exala um aroma agradável
Que embriaga minha alma
Leio um livro num vaivém
E digo que amo o meu bem
À madrugada quero bem
A alvorada olha-me diz- me
Que é ainda uma menina
E que é minha amiga
E no xaile me abriga
Obrigada digo-lhe eu
Nada lhe dou, afinal nada é meu.

Maria Silvéria dos Mártires, 68 anos Lisboa 
Desafio nº 78 – escrever sem C P S T

A letra proibida

Eis-me aqui nesta encruzilhada sem saber que escrever. Faz-se luz... uma ideia surge... tímida... mas rapidamente desaparece!
A Margarida escreveu: "Tem dez dias para fazer nascer uma fábula. É relativamente fácil. Usem as letras a,e,i,u. A que aí falta está interdita" (eu resumi!)
A mim parece-me bem difícil escrever uma frase interessante sem essa simples letra. 
Faz imensa falta!
Sem ela há imensas palavras que ficam inacessíveis!
Entre tanta letra...
Mas qual é dispensável?!

Carla Silva, 40 anos,  Barbacena, Elvas

Desafio nº 76 – escrever sem a letra O

Surpresa

Aquela conta não fechava, há tempos passara setembro, nada de dores, nenhum sinal.  Seriam nove ou sete meses? Desconfiada, procurou outro médico, a setecentos quilômetros dali. Sete dias passaram muitos exames e uma constatação. Não era um bebê e sim dois. Não poderia esperar mais. Partiu rumo ao hospital. Setenta e duas horas depois nasceram: Maria, João e mais... José, no calor setentrional do Amapá, pouco mais de sete horas da manhã, um dia que seria inesquecível.

Roseane Ferreira, Macapá, Estado de Amapá, Brasil

Desafio nº 7 – história onde entre 7 vezes o número 7